💌 Carta II – Mudanças ao Sul

Minha querida Mariana,

Escrevo-te de Beja, num tempo em que as urnas voltaram a falar. As vozes que enchem as praças e as conversas de café transformaram-se em números, e os números em decisões que desenham o destino de uma cidade.

Pela primeira vez, desde que há memória recente, Beja escolheu um novo rumo. O professor Nuno Palma Ferro, à frente da coligação Beja Consegue, venceu as eleições com 31,1% dos votos. Pela primeira vez, a cidade tem um presidente vindo da direita — e com ele, um novo capítulo começa a escrever-se.

Dizem que a política é como o tempo: muda, avisa e surpreende. A taxa de participação cresceu para 63,4%, um sinal de que o povo quis falar, quis sair da sombra e dizer presente. E isso, Mariana, é sempre o mais importante — que o voto não adormeça.

O PS, que governava desde 2017, perdeu a liderança, mas não perdeu a força. A CDU, outrora bastião firme, viu as suas muralhas recuarem, e o Chega entrou no mapa político local com uma presença que ninguém pode ignorar. Há novas vozes, novas linguagens, novas formas de dizer “Beja”.

Tu, que tanto escreveste sobre paixões e desilusões, compreenderias bem o que aqui se sente: não é só política, é emoção, expectativa, incerteza. Mudam-se as cores, mas Beja continua a ser esta cidade de luz clara e passos lentos, onde tudo parece igual e tudo está a mudar.

Cabe agora a quem vence, e também a quem perde, recordar que a cidade é maior do que qualquer partido. Beja precisa de união, de coragem, e de quem saiba transformar as diferenças em caminhos.

Talvez um dia, Mariana, quando estas palavras chegarem a ti, Beja tenha reencontrado o seu equilíbrio — entre o passado que honra e o futuro que quer alcançar.

Até lá, continuarei a escrever-te, porque a democracia também se faz de memória e de esperança.

Com estima e um olhar atento sobre as muralhas,
O Cavaleiro das Planicíes

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