💌 Carta III – O Mapa do Poder e as Cores da Planície
Minha querida Mariana,
Escrevo-te de um Alentejo que acaba de se redesenhar em tons de azul, vermelho e verde — um mapa político que muda ligeiramente, mas onde a terra, essa, continua a ser a mesma: larga, calma e resistente.
As urnas voltaram a abrir-se e, no silêncio quente das assembleias de voto, o povo do distrito de Beja escolheu os seus caminhos para os próximos quatro anos.
Em Beja, Nuno Palma Ferro venceu com a coligação Beja Consegue (PSD/CDS-PP/IL), tornando-se no primeiro presidente da direita a liderar a capital de distrito. Um marco político e simbólico que rompe com a tradição e abre um novo ciclo.
Mas fora das muralhas, Mariana, o mapa alentejano mantém a sua identidade. O Partido Socialista continua a ser o rosto dominante do distrito, conquistando nove das catorze câmaras: Alvito, Castro Verde, Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Odemira, Ourique, Serpa e Vidigueira.
A CDU mantém três bastiões fiéis — Aljustrel, Barrancos e Cuba — onde o vermelho e o verde ainda se confundem com a terra das ruas e o som do cante.
O PSD conquista Almodôvar e, com a coligação em Beja, reforça discretamente a sua presença no mapa político do Sul.
Vistas de cima, estas terras parecem todas iguais — mas cada uma guarda a sua história, as suas esperanças e os seus desenganos. A política, Mariana, é feita de ciclos: uns terminam, outros começam, e entre eles há sempre o mesmo chão alentejano que espera por quem saiba cuidar dele.
Há algo de bonito neste equilíbrio: o distrito não muda por completo, mas também não se acomoda. Reequilibra-se, respira, renova-se. É como o campo depois da sementeira — parece quieto, mas está cheio de vida por baixo da superfície.
Tu, que escreveste sobre paixões e ausências, entenderias bem esta mistura de mudança e permanência. Porque também a política, no fundo, é uma forma de amor — quando é feita por quem sente, e não apenas por quem quer mandar.
E assim fica o retrato, Mariana: um Alentejo que continua a falar em várias vozes, mas com um só coração.
Que saibam todos escutá-lo.
Com estima e esperança,
O Cavaleiro das Planícies.
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