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Carta XIV – O Despertar Amargo das Planícies

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Minha querida Mariana, Hoje Beja acordou mais cedo do que o Sol. A cidade abriu os olhos com um sobressalto — daqueles que não vêm do vento nem do canto longínquo das cegonhas, mas do rumor pesado das notícias que atravessam portas, cafés e consciências. Acordámos com a presença das autoridades, com sirenes contidas, com os passos firmes de quem vem cumprir justiça. Acordámos perante a revelação de que uma rede criminosa se servia da fragilidade alheia, explorando trabalhadores estrangeiros, muitos deles trazidos à força para uma vida que não escolheram. Acordámos, Mariana, com a dor de saber que esta mácula tocava até aqueles que juraram proteger. Foram detidos 10 militares da GNR, um agente da PSP e seis civis, todos suspeitos de colaborarem com um esquema que se alimentava da pobreza e do medo. Segundo a PJ, tratava-se de uma organização de estilo quase mafioso, que controlava centenas de trabalhadores indostânicos, muitos deles explorados, coagidos, ameaçados. E um dos epicentros d...

💌 Carta XIII – Quando a Cidade se Pensa a Si Mesma

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Minha querida Mariana, Hoje Beja desperta com outro silêncio — não o silêncio do abandono, nem o silêncio das madrugadas sobre as planícies. É o silêncio bom, aquele que antecede a reflexão, o encontro e a partilha. É que, durante dois dias, a nossa cidade vai parar para pensar a educação. Chamam-lhe Jornadas da Educação 2025 – Beja Educa: Incluir, Associar e Aprender . Mas, no fundo, Mariana, o que se vai viver no Pavilhão dos Sabores é algo maior: é a cidade a olhar-se ao espelho, é a comunidade a perguntar “que escola queremos?”, é a própria terra a tentar compreender como pode educar melhor os seus filhos. Organizadas pela Câmara Municipal, estas jornadas juntam professores e educadores, especialistas e famílias, técnicos, estudantes e todos os que acreditam que a educação é o primeiro alicerce de uma cidade justa. Durante dois dias — 19 e 20 de novembro — Beja será palco de plenários, painéis, debates e práticas partilhadas. Serão ouvidas vozes de quem constrói a escola por de...

💌 Carta XII – Quando o Futuro chega às Planícies

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Minha querida Mariana, Hoje escrevo-te de uma Beja que acordou diferente — mais desperta, mais inquieta, mais viva. Há dias em que o futuro parece uma promessa distante, mas há outros em que ele se instala entre nós, em forma de arte, música e movimento. É o caso do Festival Futurama , que regressa para mais uma edição e volta a percorrer as nossas planícies, levando cultura e criação aos concelhos de Beja, Mértola e Alvito . Durante dias, as ruas, as escolas e os teatros enchem-se de artistas e curiosos. São vozes novas e olhares antigos que se cruzam: Fidel Évora , Francisco Trêpa , Tiago Alexandre , David Infante e Sónia Baptista , entre outros, partilham ideias e experiências com alunos, seniores e cidadãos que descobrem, talvez pela primeira vez, que a arte também se faz de proximidade e pertença. Hoje, em Beja, o dia começou com “Brilha – Impressões e Escultura sobre a nossa Impressão Digital” , de Fidel Évora, com os jovens da Escola Secundária Diogo de Gouveia . À tarde, no...

💌 Carta XI – Quando a Planície Estranha os Caminhos Escolhidos

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Minha querida Mariana, Hoje escrevo-te com o vento inquieto das planícies, desses ventos que não levantam poeira, mas levantam perguntas. Em Beja, fala-se de uma aliança improvável: a CDU e a direita sentadas à mesma mesa, assinando acordos que muitos, cá em baixo, não conseguem compreender. Dizem que é pela “estabilidade”. Dizem que é pela “governação”. Mas, Mariana, nem todas as pontes ligam margens compatíveis — e há caminhos que a própria terra pressente que não vão correr bem. Tu que conheceste as paixões proibidas e os amores improváveis, talvez sorrisses ao ver esta tentativa de união. Mas a política, ao contrário do coração, não se alimenta apenas de sentimentos; alimenta-se da coerência, da confiança e do respeito pelo voto. E é isso que aqui começa a fraquejar. Durante décadas, a direita afirmou que Beja viveu sob o ritmo lento da CDU — um tempo que deixou marcas: uma cidade parada, oportunidades escassas, um centro que pedia cuidado e não o teve. Muitos dos que votaram ...

✉️ Carta X – Começa uma nova história, com todos, em Beja

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Minha querida Mariana, Hoje escrevo-te de Beja, onde um novo capítulo se abre nas páginas da nossa cidade. No discurso de posse de Nuno Palma Ferro, foi dito palavras fortes: “começa uma nova história, com todos, em Beja.”  E essas palavras soam-me como uma promessa que ainda temos de construir — juntos. Agradeço hoje aos que ontem terminaram as suas funções, aos que serviram Beja com empenho, dedicação e amor. Sem eles, esta transição não teria o chão firme sobre o qual caminhar. Mas, Mariana, há algo mais importante do que a gratidão: há o compromisso. Foi pedido ao Governo central um pacto por Beja — cooperação, apoios e políticas que façam do potencial da cidade realidade.  Não queremos promessas vazias nem retórica ocasional. Queremos ação, clareza, responsabilidade. Beja merece mais — merece funcionar como terra que serve todos, e não apenas alguns. Neste novo executivo, dirigido por Nuno Palma Ferro, cabe-nos a todos participar, contribuir, exigir e apoiar. Porque gover...

💌 Carta IX – O Homem que amou Beja e que Beja amará eternamente!

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Minha querida Mariana, Escrevo-te hoje com o coração cheio de emoção e saudade. No passado sábado, 25 de outubro, Beja viveu um daqueles dias que se guardam na alma. Foi o dia em que o nosso Hospital José Joaquim Fernandes celebrou 55 anos de vida. Mas foi, acima de tudo, o dia em que celebrámos a memória de um homem que fez de Beja o seu mapa e o seu destino: Florival Baiôa Monteiro . Na Santa Casa da Misericórdia de Beja , apresentou-se o livro que conta as cinco primeiras décadas desta instituição — e, com ele, uma vida inteira de dedicação à cidade. Entre amigos, família e artistas, ouviu-se o cante, viu-se a pintura e sentiu-se a presença de quem, mesmo ausente, continua a iluminar cada esquina do centro histórico. Houve lágrimas de saudade e sorrisos cúmplices — foi uma festa, como ele gostaria que tivesse sido. Florival partiu a 13 de fevereiro de 2024 , aos 73 anos, vencido por uma doença que não lhe roubou o brilho, nem o amor por Beja. Recebeu em vida a Medalha de Mérito ...

Se pudesses escrever hoje uma carta a Mariana, o que lhe dirias sobre Beja?

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Oito cartas depois, o silêncio de Mariana ainda me escuta. Foram palavras escritas ao vento das planícies, sobre Beja, o Alentejo e o tempo que passa. Agora, é a tua vez de falar: Se pudesses escrever hoje uma carta a Mariana, o que lhe dirias sobre Beja? Deixa nos comentários. O Cavaleiro das Planícies

💌 Carta VIII – O Tempo do Consenso

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Minha querida Mariana, Escrevo-te de Beja, onde o tempo político voltou a agitar-se — não com tempestades, mas com ventos que pedem equilíbrio e bom senso. Depois das eleições, as forças partidárias sentaram-se à mesa, tentando encontrar caminhos para a governação da cidade. E, como sempre, as conversas misturam esperança e desconfiança, vontade e orgulho, passado e futuro. No sábado, reuniu-se a coligação “Beja Consegue” (PSD/CDS/IL) com o Partido Socialista , procurando um entendimento possível. Falou-se em diálogo, falou-se em partilhar responsabilidades, falou-se até na hipótese de o PS assumir o pelouro da Educação. Mas a concelhia socialista recusou, lembrando que há quatro anos, quando o cenário era inverso, a mesma coligação não quis partilhar caminho. E assim, as pontes que poderiam unir, voltam a erguer-se em muros. Mariana, é nestes momentos que a maturidade democrática se põe à prova. As eleições são a voz do povo — e o povo escolheu. Escolheu uma nova liderança para a cap...

💌 Carta VII – O Silêncio das Palavras

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Minha querida Mariana, Hoje escrevo-te com um peso no peito, desses que não vêm do corpo, mas das palavras que se perdem. Dizem que o Plano Nacional de Leitura , aquele que durante quase vinte anos ajudou tantas crianças e jovens a descobrir o prazer dos livros, está a desaparecer — silenciosamente, como quem apaga uma luz sem perceber o escuro que vem a seguir. Recordo-me, Mariana, de quando as carrinhas da Gulbenkian chegavam às aldeias. Eram veículos mágicos que traziam mundos inteiros dentro de si. Nasciam sorrisos, abriam-se janelas, e muitos de nós aprendíamos que havia vida para lá do horizonte. Aquelas carrinhas foram a escola dos sonhos para quem não tinha biblioteca, nem internet, nem tempo para mais do que o trabalho e o campo. E agora, tantos anos depois, sinto que o país volta a estacionar — desta vez, sem carrinhas, sem livros, e, pior ainda, sem vontade. O Plano Nacional de Leitura foi criado em 2006 para resolver uma ferida antiga: os baixos níveis de literacia, a ...

💌 Carta VI – Onde o Outono Cheira a Feira de Castro

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Minha querida Mariana, Escrevo-te neste tempo em que as planícies ganham outra cor e o vento começa a trazer o cheiro da terra molhada. É outono no Alentejo — e isso, para nós, significa uma coisa: é tempo de Feira de Castro. Mais uma vez, as ruas de Castro Verde encheram-se de vida, de vozes e de passos. Gente que vem de todo o país, de longe e de perto, para viver o ritual que se repete há séculos e que continua a emocionar. Há feiras que são comércio, mas esta é sobretudo memória e pertença . Entre as bancas de frutos secos, o artesanato e os produtos da terra, há um rumor de histórias antigas — de quem ali se conheceu, de quem ali regressa todos os anos, de quem ali sente que o tempo tem outro ritmo. A Feira de Castro é o ponto de encontro entre o passado e o presente: onde o negócio se mistura com a amizade, e o reencontro com o fado. Tu, que escreveste sobre paixões que resistem à distância, compreenderias esta fidelidade. Porque há em cada visitante o mesmo gesto de quem vo...