Carta XIV – O Despertar Amargo das Planícies
Minha querida Mariana, Hoje Beja acordou mais cedo do que o Sol. A cidade abriu os olhos com um sobressalto — daqueles que não vêm do vento nem do canto longínquo das cegonhas, mas do rumor pesado das notícias que atravessam portas, cafés e consciências. Acordámos com a presença das autoridades, com sirenes contidas, com os passos firmes de quem vem cumprir justiça. Acordámos perante a revelação de que uma rede criminosa se servia da fragilidade alheia, explorando trabalhadores estrangeiros, muitos deles trazidos à força para uma vida que não escolheram. Acordámos, Mariana, com a dor de saber que esta mácula tocava até aqueles que juraram proteger. Foram detidos 10 militares da GNR, um agente da PSP e seis civis, todos suspeitos de colaborarem com um esquema que se alimentava da pobreza e do medo. Segundo a PJ, tratava-se de uma organização de estilo quase mafioso, que controlava centenas de trabalhadores indostânicos, muitos deles explorados, coagidos, ameaçados. E um dos epicentros d...