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💌 Carta VII – O Silêncio das Palavras

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Minha querida Mariana, Hoje escrevo-te com um peso no peito, desses que não vêm do corpo, mas das palavras que se perdem. Dizem que o Plano Nacional de Leitura , aquele que durante quase vinte anos ajudou tantas crianças e jovens a descobrir o prazer dos livros, está a desaparecer — silenciosamente, como quem apaga uma luz sem perceber o escuro que vem a seguir. Recordo-me, Mariana, de quando as carrinhas da Gulbenkian chegavam às aldeias. Eram veículos mágicos que traziam mundos inteiros dentro de si. Nasciam sorrisos, abriam-se janelas, e muitos de nós aprendíamos que havia vida para lá do horizonte. Aquelas carrinhas foram a escola dos sonhos para quem não tinha biblioteca, nem internet, nem tempo para mais do que o trabalho e o campo. E agora, tantos anos depois, sinto que o país volta a estacionar — desta vez, sem carrinhas, sem livros, e, pior ainda, sem vontade. O Plano Nacional de Leitura foi criado em 2006 para resolver uma ferida antiga: os baixos níveis de literacia, a ...

💌 Carta VI – Onde o Outono Cheira a Feira de Castro

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Minha querida Mariana, Escrevo-te neste tempo em que as planícies ganham outra cor e o vento começa a trazer o cheiro da terra molhada. É outono no Alentejo — e isso, para nós, significa uma coisa: é tempo de Feira de Castro. Mais uma vez, as ruas de Castro Verde encheram-se de vida, de vozes e de passos. Gente que vem de todo o país, de longe e de perto, para viver o ritual que se repete há séculos e que continua a emocionar. Há feiras que são comércio, mas esta é sobretudo memória e pertença . Entre as bancas de frutos secos, o artesanato e os produtos da terra, há um rumor de histórias antigas — de quem ali se conheceu, de quem ali regressa todos os anos, de quem ali sente que o tempo tem outro ritmo. A Feira de Castro é o ponto de encontro entre o passado e o presente: onde o negócio se mistura com a amizade, e o reencontro com o fado. Tu, que escreveste sobre paixões que resistem à distância, compreenderias esta fidelidade. Porque há em cada visitante o mesmo gesto de quem vo...

💌 Carta V – Uma Contadora de Histórias entre as Estrelas

Minha querida Mariana, Hoje escrevo-te com o coração cheio — e com as palavras a sorrirem. Chegam-me boas notícias destas planícies, e tu, que tanto acreditaste na força das palavras, hás de gostar de as ouvir. Foi oficializada a nomeação de Cristina Taquelim para o Prémio ALMA – Astrid Lindgren Memorial 2026, na categoria Promotores de Leitura, por indicação do Observatório de Leitura de Pombal – Secção IBBY Portugal. Entre 263 nomeados de 74 países, há um nome que fala com sotaque nosso, com o timbre quente do Alentejo, com a voz doce de quem sempre acreditou que os livros também salvam. A Cristina — natural de Lagos, mas há muito tempo enraizada em Beringel — tem sido, ao longo da vida, uma guardiã das palavras. Promotora de leitura, contadora de histórias, formadora e escritora, deixou uma marca profunda em gerações que aprenderam com ela a escutar, a imaginar e a criar pontes entre quem lê e quem ouve. Durante anos, foi um dos rostos mais inspiradores da Biblioteca Municipal de Be...

💌 Carta IV – Do Alto da Torre de Menagem vejo as nossas freguesias

Minha querida Mariana, Escrevo-te hoje do alto da Torre de Menagem , esse lugar onde Beja se ergue mais perto do céu e de onde se avistam as planícies que se estendem até perder de vista. Daqui, o olhar alcança não só os campos, mas também as freguesias do nosso concelho — cada uma com a sua história, a sua gente e a sua vontade. As eleições autárquicas trouxeram novos ventos e outras cores a este mapa que, visto daqui de cima, parece uma manta feita de esperanças e promessas. O povo falou — e falou com clareza. Alguns mudaram de rumo, outros mantiveram o caminho. Todos, porém, confirmaram que Beja está viva . Nas uniões de freguesias da cidade — Salvador e Santa Maria da Feira , Santiago Maior e São João Baptista e a rural  Albernoa e Trindade — a coligação Beja Consegue! (PSD/CDS-PP/IL) venceu e abriu um novo ciclo, elegendo Luís Figueira , Luís Pedro Dargent e Pedro Jonas para os seus primeiros mandatos. Em Beringel , a vontade manteve-se firme com o Partido Socialista...

💌 Carta III – O Mapa do Poder e as Cores da Planície

Minha querida Mariana, Escrevo-te de um Alentejo que acaba de se redesenhar em tons de azul, vermelho e verde — um mapa político que muda ligeiramente, mas onde a terra, essa, continua a ser a mesma: larga, calma e resistente. As urnas voltaram a abrir-se e, no silêncio quente das assembleias de voto, o povo do distrito de Beja escolheu os seus caminhos para os próximos quatro anos. Em Beja , Nuno Palma Ferro venceu com a coligação Beja Consegue (PSD/CDS-PP/IL), tornando-se no primeiro presidente da direita a liderar a capital de distrito. Um marco político e simbólico que rompe com a tradição e abre um novo ciclo. Mas fora das muralhas, Mariana, o mapa alentejano mantém a sua identidade. O Partido Socialista continua a ser o rosto dominante do distrito, conquistando nove das catorze câmaras : Alvito, Castro Verde, Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Odemira, Ourique, Serpa e Vidigueira. A CDU mantém três bastiões fiéis — Aljustrel, Barrancos e Cuba — onde o vermelho e o verd...

💌 Carta II – Mudanças ao Sul

Minha querida Mariana, Escrevo-te de Beja, num tempo em que as urnas voltaram a falar. As vozes que enchem as praças e as conversas de café transformaram-se em números, e os números em decisões que desenham o destino de uma cidade. Pela primeira vez, desde que há memória recente, Beja escolheu um novo rumo. O professor Nuno Palma Ferro, à frente da coligação Beja Consegue , venceu as eleições com 31,1% dos votos. Pela primeira vez, a cidade tem um presidente vindo da direita — e com ele, um novo capítulo começa a escrever-se. Dizem que a política é como o tempo: muda, avisa e surpreende. A taxa de participação cresceu para 63,4%, um sinal de que o povo quis falar, quis sair da sombra e dizer presente. E isso, Mariana, é sempre o mais importante — que o voto não adormeça. O PS, que governava desde 2017, perdeu a liderança, mas não perdeu a força. A CDU, outrora bastião firme, viu as suas muralhas recuarem, e o Chega entrou no mapa político local com uma presença que ninguém pode ign...

💌 Carta I – Abertura

Minha querida Mariana, Escrevo-te de Beja, a mesma terra onde outrora abriste o coração em cartas que viajaram o mundo. Passaram séculos, mas continua viva a necessidade de falar, de partilhar, de registar em palavras aquilo que nos inquieta e aquilo que nos orgulha. Este espaço que hoje inicio chama-se Cartas a Mariana . Tal como tu escreveste confidências ao teu amor distante, também eu quero escrever-te confidências sobre a nossa Beja — as suas notícias, os seus sucessos, as suas dificuldades, as suas esperanças. Aqui contar-te-ei das praças que se transformam, das ruas que se enchem de vozes, dos problemas que teimam em persistir e das conquistas que nos fazem acreditar. Contar-te-ei das gentes de Beja, com os seus sonhos e lutas, das memórias que carregamos e dos caminhos que precisamos de abrir. Não serão cartas de amor, mas sim cartas de cidadania. Amor, sim, por esta cidade que nos viu nascer e crescer; mas também exigência, crítica, vontade de mudança. Porque escrever-te, ...