💌 Carta VI – Onde o Outono Cheira a Feira de Castro


Feira de Castro
Minha querida Mariana,

Escrevo-te neste tempo em que as planícies ganham outra cor e o vento começa a trazer o cheiro da terra molhada. É outono no Alentejo — e isso, para nós, significa uma coisa: é tempo de Feira de Castro.

Mais uma vez, as ruas de Castro Verde encheram-se de vida, de vozes e de passos. Gente que vem de todo o país, de longe e de perto, para viver o ritual que se repete há séculos e que continua a emocionar. Há feiras que são comércio, mas esta é sobretudo memória e pertença.

Entre as bancas de frutos secos, o artesanato e os produtos da terra, há um rumor de histórias antigas — de quem ali se conheceu, de quem ali regressa todos os anos, de quem ali sente que o tempo tem outro ritmo. A Feira de Castro é o ponto de encontro entre o passado e o presente: onde o negócio se mistura com a amizade, e o reencontro com o fado.

Tu, que escreveste sobre paixões que resistem à distância, compreenderias esta fidelidade. Porque há em cada visitante o mesmo gesto de quem volta à casa antiga, ao lugar onde tudo começou. É um reencontro com a infância, com os cheiros, com as vozes de outros tempos.

E é isso, Mariana, que faz desta feira um marco — o seu poder de juntar, de fazer comunidade, de lembrar que o Alentejo não vive só de horizontes largos, mas também de gente que se encontra, fala e sorri.

Enquanto caminho entre o burburinho e o som das gaitas, penso que a Feira de Castro é um espelho da nossa alma: simples, verdadeira e resistente.
O outono traz-lhe essa beleza calma — de quem sabe envelhecer com dignidade e continuar a acolher todos com o mesmo abraço largo das planícies.

Que venham mais feiras assim, onde o tempo abranda e o coração se reconhece.
E que tu, de onde estiveres, sintas este cheiro de castanha, de vinho novo e de palavra dita.

Com estima e saudade,
O Cavaleiro das Planícies

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