💌 Carta IX – O Homem que amou Beja e que Beja amará eternamente!


Minha querida Mariana,

Escrevo-te hoje com o coração cheio de emoção e saudade.
No passado sábado, 25 de outubro, Beja viveu um daqueles dias que se guardam na alma.
Foi o dia em que o nosso Hospital José Joaquim Fernandes celebrou 55 anos de vida.
Mas foi, acima de tudo, o dia em que celebrámos a memória de um homem que fez de Beja o seu mapa e o seu destino: Florival Baiôa Monteiro.

Na Santa Casa da Misericórdia de Beja, apresentou-se o livro que conta as cinco primeiras décadas desta instituição — e, com ele, uma vida inteira de dedicação à cidade.
Entre amigos, família e artistas, ouviu-se o cante, viu-se a pintura e sentiu-se a presença de quem, mesmo ausente, continua a iluminar cada esquina do centro histórico.
Houve lágrimas de saudade e sorrisos cúmplices — foi uma festa, como ele gostaria que tivesse sido.

Florival partiu a 13 de fevereiro de 2024, aos 73 anos, vencido por uma doença que não lhe roubou o brilho, nem o amor por Beja.
Recebeu em vida a Medalha de Mérito Artístico e Cultural da Câmara Municipal, em 2019, mas o seu verdadeiro prémio foi outro: o reconhecimento espontâneo de um povo que o viu caminhar pelas ruas, sempre curioso, sempre apaixonado, sempre a defender o que é nosso.

Foi ele quem fundou e presidiu à Associação de Defesa do Património de Beja, quem ajudou a criar o Centro de Apoio à História, ao lado de Cláudio Torres e Borges Coelho.
Foi um dos principais rostos do movimento Beja Merece +, porque acreditava que o amor à cidade não se mede em discursos, mas em ação.
E é curioso, Mariana: há quem viva a vida inteira em Beja e nunca a veja.
Florival viu-a como poucos.
Desenhou-a, estudou-a, escreveu-a — e, no fim, fez dela o espelho do seu próprio coração.

A exposição que agora lhe é dedicada — “Florival Baiôa: Uma Homenagem Desenhada” — mostra o quanto ele continua presente.
Cada traço, cada olhar, cada história contada entre amigos é uma pedra acrescentada à muralha da nossa memória coletiva.
Porque há pessoas que, quando partem, não deixam vazio — deixam rasto.

Mariana, se o tivesses conhecido, terias gostado dele.
Tinha o sorriso tranquilo de quem sabe muito, mas não precisa de o mostrar.
Tinha o olhar dos que estudam a história não para a guardar num livro, mas para a devolver às pessoas.
E tinha, sobretudo, o amor por Beja — esse mesmo que eu te escrevo em cada carta.

Por isso, hoje escrevo-te em nome de todos os que o admiraram, para lhe dizer obrigado.
Porque os que defendem a memória são os que garantem o futuro.
E, enquanto houver quem conte as suas histórias, Florival Baiôa Monteiro continuará a escrever sobre Beja — agora com as letras da eternidade.

Com admiração e respeito,
O Cavaleiro das Planícies

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