💌 Carta XI – Quando a PlanÃcie Estranha os Caminhos Escolhidos
Minha querida Mariana,
Hoje escrevo-te com o vento inquieto das planÃcies, desses ventos que não levantam poeira, mas levantam perguntas.
Em Beja, fala-se de uma aliança improvável: a CDU e a direita sentadas à mesma mesa, assinando acordos que muitos, cá em baixo, não conseguem compreender.
Dizem que é pela “estabilidade”.
Dizem que é pela “governação”.
Mas, Mariana, nem todas as pontes ligam margens compatÃveis — e há caminhos que a própria terra pressente que não vão correr bem.
Tu que conheceste as paixões proibidas e os amores improváveis, talvez sorrisses ao ver esta tentativa de união.
Mas a polÃtica, ao contrário do coração, não se alimenta apenas de sentimentos; alimenta-se da coerência, da confiança e do respeito pelo voto.
E é isso que aqui começa a fraquejar.
Durante décadas, a direita afirmou que Beja viveu sob o ritmo lento da CDU — um tempo que deixou marcas: uma cidade parada, oportunidades escassas, um centro que pedia cuidado e não o teve.
Muitos dos que votaram na mudança fizeram-no para quebrar exatamente isso: o imobilismo, o hábito, a rotina de sempre.
E agora, Mariana, dizem-lhes que o futuro começa… regressando ao passado?
Há aliança que nascem da necessidade, e outras que nascem do medo.
Temo que esta seja a segunda.
Porque governar com dois vereadores não é impossÃvel — outros concelhos o fizeram, com diálogo institucional e firmeza democrática.
Não é preciso ceder a amarras que anulam identidades, confundem eleitores e devolvem à cidade a sombra do que ela quis deixar para trás.
Tu perguntarias: “Mas não é bom que se entendam?”
E eu responder-te-ia:
Sim, Mariana — entendimento é virtude.
Submissão não é.
Quando se une o que não se reconhece, quando se junta o que sempre caminhou em sentidos opostos, quando se força consenso onde só existe cálculo… a planÃcie percebe.
E cala-se, mas observa.
E observa, mas não esquece.
Beja precisa de coragem, não de conveniências.
Precisa de firmeza, não de alianças frágeis.
Precisa de quem governe com a equipa que o povo escolheu — não com quem, durante anos, representou o contrário da mudança prometida.
Tu que foste voz de verdade no tempo do silêncio, saberias dizer isto melhor do que eu:
a coerência é o dom mais raro da polÃtica.
E quando se perde, perde-se tudo.
Com inquietação serena e fé na planÃcie,
O Cavaleiro das PlanÃcies
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Desafio-te a começar assim:
“Minha querida Mariana…”